terça-feira, 30 de setembro de 2008


Srta. Elise Brewer,


Creio eu que a Srta. deva estar estranhando receber uma carta minha. Teria sido muito mais fácil simplesmente tentar encontrá-la pessoalmente para conversar. Eu poderia me utilizar de diversas escusas, como o excesso de trabalho que costuma tomar muito do meu tempo, para explicar a razão pelo qual estou escrevendo à Srta., mas a verdade é que me falta coragem para tal.

Bem, sem mais rodeios, gostaria de ousar lhe fazer uma pergunta e pedido! A Srta. já tem companhia para o baile de encerramento do festival? Caso não a tenha ainda, dar-me-ia a indescritível honra de me acompanhar?

Peço antecipadamente desculpas caso tenha causado algum inconveniente! Grato pela atenção.

Phillip Farrington


segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Caríssimo Frank,


É uma imensa pena que não possas vir à cidade em ocasião do festival, conforme pedi. Esperava que tua presença pudesse me trazer um pouco da tranqüilidade de que preciso, principalmente depois do que houve com Daniel. Aquele furto foi demais para todos e ele continua sem saber o que fazer, ainda mais sem David por perto. Daniel é um poeta idealista, não sabe lidar com questões práticas como aquela dos documentos roubados. Deves imaginar o quanto ele está perdido.

Eu sei que tu nunca gostaste de David; ele pode ter muitos defeitos, mas tens que concordar que lidaria com esta questão muito melhor que nosso amigo Daniel. David é prático e ambicioso, além de conhecer bem seu adversário, devido aos anos de sociedade. E se eu conheço o meu amigo, ele está pensando numa maneira de reaver os papéis.

Como se não bastasse, Madeline pegou uma gripe forte esses dias e ficou acamada. Tive, então, que alternar as horas do meu dia entre os trabalhos no ateliê, as visitas freqüentes de Daniel e o quarto de minha irmã. Mas, como ela sempre foi uma criança forte, não tardou a melhorar. Era notável a sua ansiedade para sair daquele quarto e ir brincar.

Não sei se receberás esta carta de pronto, pois partiste em treinamento e eu sequer sei onde estás neste momento. Enviarei ao lugar de sempre e aguardarei tua resposta, da qual espero boas notícias.


Liberté toujours,

Sofia


segunda-feira, 15 de setembro de 2008


Caro amigo James,


Sinto-me deveras aliviado em saber que o motivo da partida não foi a nossa briga. Mais ainda por você me ter perdoado. Fico feliz que tenha voltado para a sua amada Irlanda, terra da qual nunca esqueceu e vivia com saudades. Pode ficar tranqüilo que farei sua mãe saber da sua boa saúde e que o destino tem sido generoso consigo. Depois, com calma, você me conta os motivos tão imperiosos que demandaram a sua urgente partida.

A propósito, de quem você falou quando disse que há alguém que deve mudar? Que espécie de mudança é essa? Veja lá o que você vai fazer, não vá tomar uma daquelas suas decisões arrebatadas e irreversíveis. Sei que quando coloca uma coisa na cabeça, vai até as últimas conseqüências.

Ah, tenho uma novidade para contar-te! Acreditas que aquele patife do Ted me escreveu?! Quer retornar para descansar em casa no festival, como se nada tivesse acontecido! Sabe que ele agora é faxineiro? Que ofensa! Como eu o odeio! Quando papai souber disso, vai morrer de desgosto e isso eu não posso permitir. Você sabe que a valentia não é das minhas virtudes, mas pelo meu pai, engulo meus medos passo por cima de quem for! É a única coisa boa que me resta na vida. Mas isso é assunto para outra carta.

Bem, amigo... Muito me alegra saber que estás feliz. Quanto a mim, não me restava outro destino, você previamente revelou o que me estava reservado e eu, surdamente, não te dei ouvidos. Preciso de sua ajuda. Sabe que, mesmo não seguindo sempre seus conselhos, tomo-os como baliza. Lembro, James, aqueles velhos dias quando os dois pensavam sobre as mulheres... Discutíamos bebericando, saboreando as palavras e o velho brandy.

Sabe que há grande semelhança entre a lua e as mulheres no que concerne à natureza? A lua desliza sorrateiramente pelos telhados das casas de nossa bela cidadezinha com passos de gato – esse felino que tem um pé no além - deitando-nos um olhar de Cigana, mostrando uma luz que finge ser do sol que carrega em seu ventre. Promete ao Astro-Rei todo o infinito e as suas estrelas e este, embasbacado, a persegue apaixonadamente por toda a existência.

A lua embusteira, a lua dos amores, a lua das mulheres e dos dissimulados poetas, lua dos lobisomens, desgraçados pobres coitados amaldiçoados, a lua que desfila num tapete negro de veludo salpicado de estrelas, envolvendo e acobertando os amantes com seu véu gris tão cúmplice. Foi assim que os encontrei aos beijos nas margens do lago prateado em noite de lua cheia.

Elas não conhecem lealdade nem amizade. “És escravo? Não poderás ser amigo. És tirano? Não poderás ter amigos. Houve durante muito tempo na mulher um escravo e um tirano escondidos. Por isso a mulher ainda não é capaz de amizade, apenas conhece o amor”. Tudo isso me foi dito por um velho sábio, num livreto que caiu em minhas mãos.

Enfim, amigo, foi isso que me ocorreu. Ando cabisbaixo na rua, com o chapéu enterrado na cabeça, cobrindo o rosto de vergonha, paranóico, achando que as pessoas me olham com pena ou deboche. Você sabe, a nossa cidade é pequena e alguns já sabem, a história não vai demorar a cair no populacho e eu vou ser a piada da cidade. O pior é que não tenho coragem de lavar minha honra com sangue. Não sei mais o que fazer!

Você conhece todo o contexto. Agora, de longe da situação, talvez consiga enxergar o quadro melhor que eu. Por favor, me dê uma luz! Já não sei mais a quê me agarrar.

Um forte abraço do seu bom amigo,

Robert.


Caro Robert,


Imagino que todos estejam preocupados com minha falta de notícias. Estou bastante ocupado ultimamente com tanto trabalho. Mas está sendo ótimo, a Ópera tem vários pianos e órgãos, e eu sempre me deslumbro com eles. Um dia fiquei até mais tarde fazendo o trabalho de limpeza e rendi-me à tentação de tocar um piano que chamou minha atenção desde que o vi. Você sabe minha paixão pela música e por piano. E que som que ele tem! Passei a tocar um pouco sempre que fico sozinho por lá.

Mas o motivo maior desta carta é outro. Pretendo voltar para a cidade, pelo menos durante o festival. Sei que minha mãe ficará contente, portanto espero fazer-lhe uma surpresa. Confio em você, meu irmão, para que ela não suspeite de nada.

Meu amigo Adrian também pretende ter uma folga e ir conhecer o festival. Conversamos com o Sr. Berger, o administrador da casa, e ele nos disse que não nos pagaria os dias que nós não trabalharmos. Adrian não ficou muito contente com isso, mas faço questão de levá-lo comigo. Ele anda muito cansado, merece um descanso, e ele vai gostar das garotas da cidade. Sei que não será problema reservar um quarto da casa para ele, então o convidei para ficar em nossa casa.

Pretendo ficar um dia em Londres, encontrar alguns velhos amigos. Se precisar de algo da capital é só pedir.


Até mais ver,

Ted


sexta-feira, 12 de setembro de 2008


Senhora Hurley,


Sinto muito pelo ocorrido com os vestidos de suas filhas. Eu pedi para que minha sobrinha fizesse alguns ajustes nos vestidos da senhora Londan, e ela os confundiu com os de Candice e Yasmin, já que são de mesma cor e tom.

Creio que reparar o erro, agora que os vestidos já foram cortados, os tornará feios e deselegantes, visto que para deixá-los longos seria necessário costurar novamente as partes retiradas à saia que ainda permanece. A não ser que a senhora esteja buscando inovação, os vestidos pareceriam roupas de retalhos.

Podemos tentar alguns bordados nas regiões de remendo, mas como o tecido já possui uma estampa própria, acredito que o vestido perderia toda a beleza.

No entanto, poderíamos tentar criar uma saia nova, algo que nunca fiz, mas que além de bonito, seria inédito, criando uma camada de saia de cor sólida, compatível com as cores da estampa - uma saia godê branca de musseline com fitas brancas intercaladas ao tecido que a senhora comprou dariam um ar de leveza e suavidade às meninas. Para isso, seria necessário separar o corpete da saia no vestido.

O máximo que poderia fazer até o momento, já fiz, que foi alertar a minha irmã sobre o que minha sobrinha fez. Sandra está de castigo e proibida de ir ao festival. Espero uma visita da senhora para planejarmos os vestidos das meninas.

Desculpe-me pelo incidente mais uma vez, Senhora Hurley. Não ocorrerá novamente.


Grata, Rosemary Darcy


Querida irmã,


Finalmente estou voltando para casa. Peter, o rapaz de quem falei na última carta, melhorou bastante. A moça que estava com ele, a srta. Wood, não me deixou examiná-lo direito. Ficou conversando comigo desesperada, querendo saber o que poderia ter causado o desmaio do jovem, e listou todos os hábitos alimentares, falando do histórico dele, parecia uma mãe em prantos querendo saber onde errou com o filho. Mas esse tipo de gente não é tão anormal por aqui, todos acham que os novos medicamentos são milagrosos e que nada de errado pode acontecer.

Quando consegui voltar para o quarto do paciente, ele já estava acordado e tão bem como se nada tivesse acontecido. Deve ter sido apenas uma queda de pressão, mas o fato de ter sido tão repentino me assustou bastante.

Descobri que Peter também está indo para a cidade, para o Festival. Ele é filho de Christopher e Margareth Johnson, veio estudar direito aqui em Londres e agora que acabou o curso pretende assumir os negócios do recém falecido pai.

Estamos voltando juntos no trem da quinta-feira, então não estaremos atrasados para o início das festividades. Nem imagine o problema que tive para mudar a passagem, Louise, tive que conversar com o gerente da estação para explicar o motivo.

Não vou me estender muito mais, afinal logo poderemos conversar pessoalmente.

Até Breve,


William


quinta-feira, 11 de setembro de 2008


Srta. Rosemary Darcy,


Estou bastante aborrecida com o trabalho da senhorita em relação aos vestidos das minhas filhas. De início, julguei ter sido um engano da criada que foi buscar os trajes, mas logo percebi que os tecidos são os mesmos que escolhi pessoalmente. Se houve algum engano, foi na confecção, o que o torna inadmissível. Certamente a senhorita tem conhecimento de que eles seriam usados no baile de encerramento do Festival da Colheita, sendo completamente inadequado o uso de tais trajes.

Não quero saber de desculpas; escrevo-lhe para exigir uma solução, pois é inaceitável que minhas filhas usem trajes que outros já viram, tampouco usarão vestidos com os quais não poderiam concorrer à eleição de rainha do baile. Não espero que uma pessoa na sua posição social entenda a dimensão deste absurdo, mas que dirá a sociedade? Será um escândalo! Candice não se importa com essas coisas, mas Yasmin está em prantos.

Saiba a senhorita que não mais usaremos seus serviços se não nos apresentar uma boa alternativa em tão pouco tempo. Perderá sua melhor cliente e não se iluda que ficarei calada diante de tal impropério; pretendo anunciá-lo à sociedade inteira. Aguardo uma resposta convincente, para seu próprio bem.


Violet Hurley


segunda-feira, 8 de setembro de 2008


Caro Robert,


Antes de mais nada, peço perdão por ter saído da cidade tão abruptamente, sem me despedir. Acredite, tive minhas razões. Por favor, diga a minha mãe que estou bem de saúde - com exceção daquele pequeno problema que você bem sabe - e que ela não precisa se preocupar. As coisas estão dando certo para mim aqui na Irlanda. Sim, amigo, estou de volta ao meu querido Eire.

Estou feliz, na medida do possível, mas confesso que sinto falta de algumas coisas. Da sua pessoa, inclusive. Sua ingenuidade sempre me cativou, o brilho de admiração que eu via nos seus olhos irradiavam os lugares por onde passávamos. Brilho esse que foi ficando cada vez mais minguado à medida em que aquela rameira... desculpe, sei que você me pediu para não chamá-la assim... enfim, desde que ela passou a encher sua cabeça com o ofídio veneno, tão característico de criaturas como ela.

Mas você sabe, você me conhece, eu não sou de guardar rancores. No entanto, confesso que fico contente em saber que você pôde afinal ver a luz da verdade. É nessas horas que eu odeio dizer "eu te avisei", mas ainda sinto que há esperanças para você, meu jovem. Tão feliz me deixaste com esta notícia que sinto que devo lhe contar um segredo.

Decidi que uma pessoa que ambos conhecemos deve mudar. Não diga nada, eu sei o que você pensa a respeito dessas minhas decisões. Mas não me julgue antes de saber todos os detalhes. Manterei-o atualizado à medida que a história progredir. Não se preocupe, você sabe que sou inofensivo.

Sempre seu,


James MacYell

segunda-feira, 1 de setembro de 2008


Minha querida Candice,


Como estás? Sei que há tempos não te escrevo, mas sei também que hás de me perdoar, pois conheces bem os motivos para tal. No entanto, como se aproxima o Festival da Colheita e, com essa data, tantas lembranças, senti de ti uma saudade. De ti, dos outros festivais, de tudo o que vivi aí e não pude resistir a tirar um minutinho para escrever-te.

Querida amiga, quantas vezes eu estive tão triste e me socorreste. Tua amizade, tua alegria e o que fazias para me ver sorrir me ajudavam a esquecer algumas tristezas. E depois de cada festival era mais fácil voltar a este lugar e dar continuidade a esta vida.

Mas deixemos de lado o passado, pensemos no futuro e vamos às providências práticas: poderei hospedar-me contigo outra vez? (Não temo que me consideres oferecida, pois não será a primeira vez que faço semelhante pedido). Se a resposta (como espero) for positiva, então farei como nos outros anos. Chegarei na véspera do festival e ficarei até a tarde do último dia. Espere-me na estação na tarde do dia anterior ao festival. Não será preciso outra pessoa para carregar a bagagem, levarei pouca coisa.

Aguardo ansiosa tua resposta e mais ainda a oportunidade de rever-te e rever todos os outros.

Receba um abraço de tua amiga,


Ann.