sexta-feira, 17 de abril de 2009


Cara Mrs. Prudence,


Encontrei-me com seu filho durante o Festival e ele contou-me sobre a sua enfermidade. Como tem passado esses dias? Imagino que Simon deve ter lhe contado sobre o evento, sobre o discurso de Philip Farrington e a apresentação de sua irmã ao piano. O discurso foi como esperávamos, mas a execução do hino da cidade por Amelia realmente surpreendeu-me.

Infelizmente, o que não me causou grande espanto foi a recepção que Ted teve por parte do irmão, ao chegar à cidade. Ann, que também veio para o Festival, e eu havíamos ido até a estação para encontrar nosso amigo. Sabíamos como ele deveria estar abalado pela morte da mãe e imaginávamos que Robert o procuraria assim que Ted voltasse à cidade, a despeito de dizer que não queria ver o irmão nem mesmo pintado. Mas quando chegamos lá, Robert já se encontrava na estação e não houve a menor chance de alcançarmos Ted antes que ele o abordasse. Foi realmente muito triste. Nos poucos minutos que estiveram juntos, Robert despejou sobre ele toda raiva e ressentimento. Ted nem imaginava toda a amargura que o irmão guardava.

Como Robert não permitiu que Ted voltasse para casa dos Lancaster, ofereci-lhe que ficasse em minha casa durante o Festival. Enquanto voltávamos da estação, Ann, Ted e eu fomos abordados por Mr. Lancaster que insistiu para que Ted voltasse para casa. Ele, no entanto, não aceitou a proposta do pai. Disse que estava profundamente comovido e confuso e gostaria de evitar encontrar-se com Robert para poupar a todos mais aborrecimentos. Achei estranha a insistência de Mr. Lancaster, pois nunca deu grandes mostras de afeto por Ted.

Mesmo muito abatido, Ted nos acompanhou até a praça para a abertura, onde encontramos Peter e conhecemos sua noiva, Giovanna. Ela me pareceu ser uma pessoa muito fria, bem diferente de Peter. Mas não tivemos muito tempo para conversas, pois David Berestford e Mr. Lancaster não o deixavam em paz, sempre lhe questionando algo sobre a ferrovia, o que lhe causou grande estranhamento. Por isso ele e sua noiva retiraram-se rapidamente do Festival, no primeiro dia.

Acredito que a senhora esteja ansiosa por notícias de Ann. Ela está bem. Diz que foi uma idéia acertada ir para Londres. Lá está estudando e trabalhando em um ateliê de costura que mamãe garantiu-me ser bem famoso. Pelo que conheço de Ann, ela fará tudo o que for possível para que essa estada em Londres se prolongue.

Mrs. Prudence, encerro por aqui; essa carta ficou bem maior do que eu esperava. Até breve e melhoras.


Candice Hurley


quarta-feira, 8 de abril de 2009


Prezado Sr. David Berestford,


Tentei diversas vezes falar com o senhor durante o Festival da Colheita, entretanto não encontrei uma oportunidade adequada. Venho, então, por meio desta, fazer-lhe um pedido, em nome de nossa cidade. É sabido que o senhor possui um jornal em Londres, então eu achei apropriado solicitar uma pequena nota sobre tal acontecimento, que foi o festival. Segundo fiz questão de frisar no meu discurso de abertura — que, modéstia à parte, foi efusivamente elogiado —, é de conhecimento geral que o nosso festival, apesar de antigamente ter tido um motivo religioso, é hoje mais voltado para o comércio. Dessa maneira, alguma publicidade poderá trazer a todos alguns benefícios.

O senhor deve ter conhecimento de que a celebração teve origem nos tempos ancestrais, em homenagem a Latiaran, deusa celta da colheita. Durante as tradicionais celebrações, o povo agradecia a colheita que antecedia o inverno; os donos de plantações trocavam seus produtos e estocavam para a estação fria e improdutiva. A tradição foi mantida, pois já fazia parte da nossa cultura, além de ser excelente para fins comerciais. O senhor deve ter percebido que as músicas, as danças, a culinária e até mesmo a vestimenta das moças no baile de encerramento são bastante tradicionais, bem diferentes do que se vê hoje. Essa é parte do encanto do festival, o caráter cultural que foi mantido, mesmo com o passar dos anos.

Nossa cidade possui uma história bastante interessante, que poderá ser citada juntamente com a nota sobre o festival. Creio que o senhor certamente deve ter atentado para tal curioso assunto em meu discurso, pois discorri amplamente sobre vários pontos, desde o surgimento das festividades à fundação da cidade por Sir William McKeller, nobre barão inglês. É sabido que o nosso ilustre fundador foi um dos barões que impôs a primeira carta magna ao rei João Sem Terra, iniciando uma nova fase constitucionalista na história da humanidade. Quando percebeu o grande potencial das chamadas "ligas hanseáticas", Sir William aliou-se aos burgueses e aproveitou-se do fato de que nesta terra passavam importantes estradas usadas pela rota comercial, fundando aqui uma vila. Nossa vila — agora cidade — entrou, então, para as ligas, mesmo não sendo uma das cidades principais. E, dessa maneira, ela tornou-se o que é hoje, uma notável cidade, que cresce continuamente.

Encerrarei a carta por ora, mas ponho-me à disposição para quaisquer esclarecimentos que forem necessários. Espero a sua compreensão e apoio à minha proposta. Creio que a divulgação de tais informações será enriquecedora para nossa cidade.


Atenciosamente,


Phillip Farrington