quarta-feira, 3 de dezembro de 2008


Querida madrinha,


Ainda estou em Londres. Peter acabou tendo que ser internado num hospital próximo à estação e está em observação, acompanhado de perto por mil enfermeiras. Eu, obviamente, tive que ficar por aqui; hospedei-me num hotel horroroso ao lado do hospital e a partir de então tenho dormido pessimamente. Acredite, tive pesadelos. Creio que a senhora ficaria horrorizada, se visse a comida que servem neste lugar. Partiremos ainda hoje, sem mais tardar; o Dr. Allerton afirmou que Peter já está bem.

Infelizmente, encontramos esse médico na estação, que socorreu Peter e o trouxe para este hospital, arruinando o nosso plano de levá-lo ao lugar combinado. A substância que a senhora me deu fez o efeito esperado e teríamos conseguido mantê-lo aqui, com o pretexto de que estava muito doente para viagens longas. Com isso tudo que aconteceu, não pude fazer meu noivo desistir de ir àquele fim de mundo. Porém, eu tenho certeza de que ele não ficará naquele lugar por muito tempo; passou tantos anos longe da família que, acredito, não agüentará morar com eles outra vez, ainda mais longe da cidade. Eu não agüentaria.

Por outra infeliz coincidência, o tal Dr. Allerton descobriu-se conterrâneo de Peter. Não acreditei na minha falta de sorte. Agora, terei que tomar cuidado com o que disser, pois o doutorzinho poderá matraquear por aí uma versão diferente da minha e terminar me desmascarando. Como não sou tola, escrevi à irmã caipira do meu querido noivo e contei-lhe a minha história, antes que boatos indesejáveis lhe chegassem aos ouvidos.

Despeço-me agora, madrinha, pois nosso trem sairá em menos de duas horas. Fique sossegada; escrevo-lhe do fim do mundo, logo que puder. Com carinho,


Giovanna


7 comentários:

Paulinho disse...

Agora sim! Perfeito! Mulheres e seus ardis... Bem que Robert tem razão quando parafraseia Nietzsche.

Kamilla disse...

=O

Fiquei barbarizada com a carta da Giovanna.
Hum, pensando bem, algumas mulheres podem agir assim. Algumas...

Ótima, Mari.

D.Ramírez disse...

Querida Marina,

Recebi essa carta aqui no estudio e fiquei surpreso com que li. Adorável texto...Espero ancioso pela próxima carta, da qual responderei assim que chegar.
Besos

Magna Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Magna Santos disse...

Giovanna, você não me conhece.
Mas lamento informar que eu te conheço, conheço suas intenções com meu querido Peter. Mais do que isso, tenho provas das suas intenções para com ele. Peter é sim uma criatura simples, que gosta de gente simples, fato que não entendi como veio a se apaixonar por você. Vai ver que foi alguma outra porção que você o fez beber, sob orientação de sua ardilosa madrinha. Como vê sei de tudo, ou se não tudo, o suficiente para atrapalhar os seus planos.
Logicamente não vou lhe dizer como sei e que provas tenho. Mas, tenha certeza: isto não é um blefe. Só escrevo com o fim de que reconsidere e mude de atitude. Sou bem paciente, acredito nas pessoas, mas não sou boba. Cuidado. Não quero ver mais Peter sofrendo nenhum problema, muito menos de saúde, por sua causa.
Aguardo mudanças e digo: não será só você que irá se arrepender, caso não mude de idéia, sua madrinha também, tenho como atingi-la.
Até a próxima.
Uma desconhecida.

Pâmela disse...

Acabei de conhecer toda a história.
Não gosto dessa Giovanna. Abusada!
Hahahahahahaha.
Já estou esperando ansiosamente pela próxima carta. Não demorem a escrever, por favor!

Marina disse...

Quem não leu, devia ler a carta que Giovanna mandou para Christine, a irmã de Peter. É só clicar no nome dela, nos marcadores. Vale a pena.