segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


Ted,


Leia com atenção, pois é a última vez que lhe escrevo, não sabe o nojo que tenho ao ter que fazê-lo. Não quero ver essa sua cara nem pintada de ouro. Prefiro mandar uma carta a ter que encontrá-lo pessoalmente.

Como você teve a ousadia de por os pés na nesta cidade de novo? Pior, ainda me resolve aparecer como se nada tivesse acontecido? Ainda não percebeu que não é bem-vindo aqui? Sorte sua que nem eu, nem o papai estávamos em casa. Nosso mordomo me contou como resolveu tudo. Ele tem ordens severas de não permitir a sua entrada. Mesmo tendo que ser rígido, mostrou ter mais bom-senso e classe que você, nos evitando mais um escândalo.

A mamãe faleceu há cerca de um ano, Se você não fosse um imbecil irresponsável e egoísta, teria ficado sabendo disso em tempo. Quando ela estava mais doente e precisava da família, você deu as costas e preferiu “conhecer o mundo, ir além de nossos horizontes”. Era o filho caçula, o queridinho dela e isso foi o golpe derradeiro.

Desde pequeno nos dá desgosto, mas a mamãe sempre punha panos quentes na situação. Você, seu mundinho no umbigo e seus sonhos estúpidos. Eu me esforçava tanto, estudei com afinco e, nas férias, ajudava o papai enquanto você brincava com aquele seu amigo idiota. Passavam horas dedilhando uma viola. Sempre foi um preguiçoso e nunca quis saber de estudar ou trabalhar. Papai ganhou uma úlcera de tanto se preocupar com seu futuro. Mamãe perdia noites de sono, mas nada dizia.

Recebi a carta que você escreveu há uns dias, mas tive tanto desprezo que não quis sequer responder. Era endereçada à mamãe, mas por motivos óbvios, abri e li. Agora você vem dizer que tem saudades e que está trabalhando como faxineiro? Que degradante! Joga nosso nome na lama sem nenhum pudor! Não se envergonha disso? Quando o papai souber que um Lancaster é um reles faxineirozinho, vai ter um infarto. Ainda bem que queimei as cartas antes que pudesse cair em mãos dele. Ainda teve a petulância de trazer mais outro coleguinha seu? Quem ele é? O zelador?

Nós movemos o mundo atrás de você, mamãe nos perguntava todo dia, até o seu último suspiro, enquanto você, verme, divertia-se vadiando pela Europa. Acha pouco o que fez? Não se satisfaz mesmo, não é? Papai o deserdou e desde então, é um poço de amargura. Não permitirei que você o atormente ainda mais, farei o que for necessário por um pedacinho da paz que, um dia, ele perdeu. Estou falando sério e você sabe disso, sabe do que eu sou capaz pelo papai.

Quero que você sofra miseravelmente até o fim dos seus dias, pelo que você fez a esta família. Adeus,


Robert

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008


Querida madrinha,


Ainda estou em Londres. Peter acabou tendo que ser internado num hospital próximo à estação e está em observação, acompanhado de perto por mil enfermeiras. Eu, obviamente, tive que ficar por aqui; hospedei-me num hotel horroroso ao lado do hospital e a partir de então tenho dormido pessimamente. Acredite, tive pesadelos. Creio que a senhora ficaria horrorizada, se visse a comida que servem neste lugar. Partiremos ainda hoje, sem mais tardar; o Dr. Allerton afirmou que Peter já está bem.

Infelizmente, encontramos esse médico na estação, que socorreu Peter e o trouxe para este hospital, arruinando o nosso plano de levá-lo ao lugar combinado. A substância que a senhora me deu fez o efeito esperado e teríamos conseguido mantê-lo aqui, com o pretexto de que estava muito doente para viagens longas. Com isso tudo que aconteceu, não pude fazer meu noivo desistir de ir àquele fim de mundo. Porém, eu tenho certeza de que ele não ficará naquele lugar por muito tempo; passou tantos anos longe da família que, acredito, não agüentará morar com eles outra vez, ainda mais longe da cidade. Eu não agüentaria.

Por outra infeliz coincidência, o tal Dr. Allerton descobriu-se conterrâneo de Peter. Não acreditei na minha falta de sorte. Agora, terei que tomar cuidado com o que disser, pois o doutorzinho poderá matraquear por aí uma versão diferente da minha e terminar me desmascarando. Como não sou tola, escrevi à irmã caipira do meu querido noivo e contei-lhe a minha história, antes que boatos indesejáveis lhe chegassem aos ouvidos.

Despeço-me agora, madrinha, pois nosso trem sairá em menos de duas horas. Fique sossegada; escrevo-lhe do fim do mundo, logo que puder. Com carinho,


Giovanna


quarta-feira, 19 de novembro de 2008


Caro Ted,


Encontrei seu irmão na praça hoje e ele me disse que você vem para o Festival. Se eu não lhe escrevo, você nem se lembra de mim! Embora Robert não tenha se mostrado muito feliz com minha presença, ele retribuiu o cumprimento e respondeu à minha pergunta sobre notícias suas. Fiquei feliz que pelo menos tenha falado comigo. Tenho a impressão de que Yasmin o desgostou profundamente e ele transferiu para mim esse desgosto.

Você não deve saber, mas é do conhecimento de muitos aqui que Yasmin começou a incentivar os sentimentos dele há algum tempo. No entanto, algo deve ter acontecido. De alguns dias para cá, não tenho visto seu irmão às voltas com agrados para com ela. Nem mesmo a tem cumprimentado. Não sei o que ocorreu. Como sabe, minha irmã e eu não temos um relacionamento tão íntimo que nos permita partilhar tais assuntos. Acredito que você compreenda, já que você e Robert também não têm muito em comum.

Deixemos isso de lado. Recebi há alguns dias uma carta de Ann, ela também vem para o festival e ficará em minha casa. Disse a ela que seria bom que nos encontrássemos (ela, Peter, você e eu) para relembrarmos os velhos tempos e falarmos sobre o presente, das aulas de dança com Mrs. Prudence, quando nós quatro sempre achávamos uma forma de tornar mais divertidas aquelas horas tão maçantes. Lembro-me particularmente daquele dia em que Peter e você se colocaram a misturar passos de danças. Mrs. Prudence não entendeu coisa alguma! Ainda mais quando Peter começou a dizer que eram passos de uma dança aprendida com um tio caixeiro-viajante.

É uma pena que já não nos encontremos com tanta freqüência. Você em Viena, Peter e Ann em Londres. Mas acredito que a amizade que nós construímos não tenha a facilidade de se acabar, como tantos relacionamentos que nós temos visto.

Avise-me quando chegará e eu irei encontrá-lo na estação; quero ser a primeira a vê-lo. Aguardo ansiosamente a sua volta. Um abraço,


Candice.


sábado, 8 de novembro de 2008


Estimado compadre Comodoro Rudolph Gallagher,


É com transbordante júbilo que vos escrevo depois de tanto tempo, ainda que de maneira meramente noticiosa, sem mo aprofundar em minúcias mais capilares. Venho, com muito gáudio, através desta, lho convidar para a Festa da Colheita da cidade. Naturalmente não está à altura da vossa distinta presença, seria impossível comparar aos eventos sociais que pudestes freqüentar, sempre em casas e clubes da melhor sociedade.

Todavia, não deixa de ser uma oportunidade excelsa para se fazer negócios. Tenho, no decorrer desses anos todos, administrado os seus interesses da minha melhor maneira, entretanto, vossa presença se faz muito útil nesse momento. Creio que um toque brilhante de vossa genialidade peculiar daria o impulso extra de que carecemos, e a conjuntura é por demais oportuna.

Ademais, o vosso afilhado Robert, que deveria mo auxiliar nessas tarefas, toma-me tempo em demasia. Estive a prepará-lo, afinal, um dia ele herdará o legado dos Lancaster. Junta-se a isto o preço alto que nos é cobrado inexoravelmente pelo tempo. Já não sou mais aquele mesmo dos nossos saudosos tempos de estudo, de sorte que estou a precisar de um apoio.

Encarrego Robert dos pormenores, afinal, para alguma coisa ele deve servir. Basta que mo informe apenas o dia e a hora de sua chegada. Certamente seria dispensável dizer que mo regojizaria muito lho hospedar em nossa casa, mas faço questão de reiterar o convite.

Sem mais para o momento, reitero protestos de elevado apreço e consideração.

Atenciosamente, Noah Lancaster.


quarta-feira, 22 de outubro de 2008


Querida vovó,


Estou preocupada. As coisas não vão tão bem como eu imaginava aqui em casa. A senhora vai me condenar por isso, mas sem querer acabei lendo algumas linhas de uma carta, quando separava a correspondência de tio Andrew. Parece que ele está devendo dinheiro a um homem de sobrenome Stockton, que já veio à cidade algumas vezes e não é nenhum exemplo de honestidade. Acredita que ele insinuou que usaria de meus favores enquanto tio Andrew não arruma o dinheiro?

Tenho medo que tia Prudence tome conhecimento dessa história; sua saúde já está tão frágil... Simon também nada sabe e eu prefiro não lhe dizer ainda. O humor dele só piorou, com a semana de tratamento em Londres, mas acho que a companhia de Amelia, ao retornar, lhe fez bem. Ela consegue fazê-lo rir de uma maneira que eu jamais consegui. Deve ser por causa de seu jeito despreocupado, sua maneira de rir da vida. Pelo menos ela o faz feliz.

Dia desses, recebi um convite para o baile do festival. Estava considerando a proposta, mas agora acho que devo fazer companhia ao detestável Sr. Stockton. Não que meu tio vá me pedir isso, mas prefiro me oferecer a vê-lo se constranger diante do tratante. Dessa maneira, terei que recusar o gentil pedido de Phillip, que, apesar de as pessoas viverem dizendo que é um chato pomposo, é um bom rapaz. É diferente da irmã, que não diz meias nem palavras demais. Definitivamente não merecia a recusa que eu terei que lhe oferecer.

Espero poder mandar-lhe boas notícias em breve, vovó.


Elise

domingo, 12 de outubro de 2008


david,


escrevo com Urgência e com medo. não consegui identificar Suspeitos na estação. tentei conversar com o delegado novamente, mas Ele insistiu em dizer que está Ocupado com os Casos mais sérios, e é Óbvio que não irá gastar esforços em recuperar papéis.


Durante esses dias lembrei-me bastante da conversa interessante que tivemos quando tu viestes aqui pela última vez. aquela tua euforIa voltou a me assustar, e em nenhum momento ouvi de tua boca o motivo para tanta aleGria. talvez seja só paranóia minha, sei que O suCesso de meu último livrO te empolgou, e que tens grandes expectativas para esta coletânea de poesias.


irei Manter-te informado das Boas novas da cidade, e dos rostos que virão visitar o festival. seI que gostarias de saber o que se passa por aqui, aiNda mais na época de maior agitação.sofia está preocupada contigo, ela deseja que tu venhas para cá, Apreciar o festival, aliviar um pouco o cansaço do trabalho. eu espero que tu ouças o que ela diz. seria bom ver-te novamente aqui, podemos passar horas conversando e nos Divertindo com as novas histórias.


um abraço de seu amigo,



daniel


p.s. preciso comprar Outra maquina de escrever.



domingo, 5 de outubro de 2008


Estimadíssimo amigo Andrew,


Como é do seu conhecimento, o tenho em grande consideração. Parece-me que o senhor esqueceu de me dar notícias, assim, tenho que lhe fazer uma visita em breve para me manter inteirado dos acontecimentos, não? Tenho certeza de que seria muito bem recebido.

Por coincidência, num dia qualquer, um tablóide me caiu em mãos de maneira ocasional e vi um anúncio sobre a festa da cidade. O senhor sabe como eu tenho um espírito festivo, não? De modo que esse é o motivo que me traz à sua terra. Música, um bom uísque... Que mais pode alimentar uma alma atormentada? Belas garotas... Ah sim, sim! Seria um colírio para esse par de olhos acostumados com a rudeza humana... Garotas como a sua sobrinha. Como ela se chama mesmo? Adoraria dançar com ela. A propósito, vai bem? E sua esposa?

Tratei de me informar sobre o senhor – amigo interessado que sou – assim que cheguei à cidade. Topei com um rapaz muito simpático que trabalha no banco Gallagher & Lancaster. Ele prontamente se ofereceu a me ajudar, sempre com muita boa vontade. Naturalmente, tive que ajudá-lo também, já que o rapaz é pobre e tem uma tia doente. Tenho o coração mole, você sabe disso. Dei uns trocados para que o rapaz comprasse o leite. Bem, o rapazinho me disse que sua conta no banco não é das mais saudáveis e que seu balanço tende a gostar do vermelho.

Fiquei um tanto contrariado ao saber disso, afinal, esperava que o senhor acertasse aquela pequenina pendência comigo. Sabe, também preciso de dinheiro e no momento, tenho muito pouco nos bolsos, de modo que me hospedei numa pensão que mais parece um pardieiro. Mas fico tranqüilo, pois sei que o senhor me pagará tudo até o festival, não é verdade? Caso não consiga – coisa que duvido muito e nem quero pensar - sei que vai me presentear com sua casa, para que eu e meus amigos fiquemos bem instalados. Agora sei que o senhor vai lembrar-se de mim, não vai? Aguardo ansiosamente por notícias.

Um forte abraço do seu amigo e criado,


Patrick Stockton.

terça-feira, 30 de setembro de 2008


Srta. Elise Brewer,


Creio eu que a Srta. deva estar estranhando receber uma carta minha. Teria sido muito mais fácil simplesmente tentar encontrá-la pessoalmente para conversar. Eu poderia me utilizar de diversas escusas, como o excesso de trabalho que costuma tomar muito do meu tempo, para explicar a razão pelo qual estou escrevendo à Srta., mas a verdade é que me falta coragem para tal.

Bem, sem mais rodeios, gostaria de ousar lhe fazer uma pergunta e pedido! A Srta. já tem companhia para o baile de encerramento do festival? Caso não a tenha ainda, dar-me-ia a indescritível honra de me acompanhar?

Peço antecipadamente desculpas caso tenha causado algum inconveniente! Grato pela atenção.

Phillip Farrington


segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Caríssimo Frank,


É uma imensa pena que não possas vir à cidade em ocasião do festival, conforme pedi. Esperava que tua presença pudesse me trazer um pouco da tranqüilidade de que preciso, principalmente depois do que houve com Daniel. Aquele furto foi demais para todos e ele continua sem saber o que fazer, ainda mais sem David por perto. Daniel é um poeta idealista, não sabe lidar com questões práticas como aquela dos documentos roubados. Deves imaginar o quanto ele está perdido.

Eu sei que tu nunca gostaste de David; ele pode ter muitos defeitos, mas tens que concordar que lidaria com esta questão muito melhor que nosso amigo Daniel. David é prático e ambicioso, além de conhecer bem seu adversário, devido aos anos de sociedade. E se eu conheço o meu amigo, ele está pensando numa maneira de reaver os papéis.

Como se não bastasse, Madeline pegou uma gripe forte esses dias e ficou acamada. Tive, então, que alternar as horas do meu dia entre os trabalhos no ateliê, as visitas freqüentes de Daniel e o quarto de minha irmã. Mas, como ela sempre foi uma criança forte, não tardou a melhorar. Era notável a sua ansiedade para sair daquele quarto e ir brincar.

Não sei se receberás esta carta de pronto, pois partiste em treinamento e eu sequer sei onde estás neste momento. Enviarei ao lugar de sempre e aguardarei tua resposta, da qual espero boas notícias.


Liberté toujours,

Sofia


segunda-feira, 15 de setembro de 2008


Caro amigo James,


Sinto-me deveras aliviado em saber que o motivo da partida não foi a nossa briga. Mais ainda por você me ter perdoado. Fico feliz que tenha voltado para a sua amada Irlanda, terra da qual nunca esqueceu e vivia com saudades. Pode ficar tranqüilo que farei sua mãe saber da sua boa saúde e que o destino tem sido generoso consigo. Depois, com calma, você me conta os motivos tão imperiosos que demandaram a sua urgente partida.

A propósito, de quem você falou quando disse que há alguém que deve mudar? Que espécie de mudança é essa? Veja lá o que você vai fazer, não vá tomar uma daquelas suas decisões arrebatadas e irreversíveis. Sei que quando coloca uma coisa na cabeça, vai até as últimas conseqüências.

Ah, tenho uma novidade para contar-te! Acreditas que aquele patife do Ted me escreveu?! Quer retornar para descansar em casa no festival, como se nada tivesse acontecido! Sabe que ele agora é faxineiro? Que ofensa! Como eu o odeio! Quando papai souber disso, vai morrer de desgosto e isso eu não posso permitir. Você sabe que a valentia não é das minhas virtudes, mas pelo meu pai, engulo meus medos passo por cima de quem for! É a única coisa boa que me resta na vida. Mas isso é assunto para outra carta.

Bem, amigo... Muito me alegra saber que estás feliz. Quanto a mim, não me restava outro destino, você previamente revelou o que me estava reservado e eu, surdamente, não te dei ouvidos. Preciso de sua ajuda. Sabe que, mesmo não seguindo sempre seus conselhos, tomo-os como baliza. Lembro, James, aqueles velhos dias quando os dois pensavam sobre as mulheres... Discutíamos bebericando, saboreando as palavras e o velho brandy.

Sabe que há grande semelhança entre a lua e as mulheres no que concerne à natureza? A lua desliza sorrateiramente pelos telhados das casas de nossa bela cidadezinha com passos de gato – esse felino que tem um pé no além - deitando-nos um olhar de Cigana, mostrando uma luz que finge ser do sol que carrega em seu ventre. Promete ao Astro-Rei todo o infinito e as suas estrelas e este, embasbacado, a persegue apaixonadamente por toda a existência.

A lua embusteira, a lua dos amores, a lua das mulheres e dos dissimulados poetas, lua dos lobisomens, desgraçados pobres coitados amaldiçoados, a lua que desfila num tapete negro de veludo salpicado de estrelas, envolvendo e acobertando os amantes com seu véu gris tão cúmplice. Foi assim que os encontrei aos beijos nas margens do lago prateado em noite de lua cheia.

Elas não conhecem lealdade nem amizade. “És escravo? Não poderás ser amigo. És tirano? Não poderás ter amigos. Houve durante muito tempo na mulher um escravo e um tirano escondidos. Por isso a mulher ainda não é capaz de amizade, apenas conhece o amor”. Tudo isso me foi dito por um velho sábio, num livreto que caiu em minhas mãos.

Enfim, amigo, foi isso que me ocorreu. Ando cabisbaixo na rua, com o chapéu enterrado na cabeça, cobrindo o rosto de vergonha, paranóico, achando que as pessoas me olham com pena ou deboche. Você sabe, a nossa cidade é pequena e alguns já sabem, a história não vai demorar a cair no populacho e eu vou ser a piada da cidade. O pior é que não tenho coragem de lavar minha honra com sangue. Não sei mais o que fazer!

Você conhece todo o contexto. Agora, de longe da situação, talvez consiga enxergar o quadro melhor que eu. Por favor, me dê uma luz! Já não sei mais a quê me agarrar.

Um forte abraço do seu bom amigo,

Robert.


Caro Robert,


Imagino que todos estejam preocupados com minha falta de notícias. Estou bastante ocupado ultimamente com tanto trabalho. Mas está sendo ótimo, a Ópera tem vários pianos e órgãos, e eu sempre me deslumbro com eles. Um dia fiquei até mais tarde fazendo o trabalho de limpeza e rendi-me à tentação de tocar um piano que chamou minha atenção desde que o vi. Você sabe minha paixão pela música e por piano. E que som que ele tem! Passei a tocar um pouco sempre que fico sozinho por lá.

Mas o motivo maior desta carta é outro. Pretendo voltar para a cidade, pelo menos durante o festival. Sei que minha mãe ficará contente, portanto espero fazer-lhe uma surpresa. Confio em você, meu irmão, para que ela não suspeite de nada.

Meu amigo Adrian também pretende ter uma folga e ir conhecer o festival. Conversamos com o Sr. Berger, o administrador da casa, e ele nos disse que não nos pagaria os dias que nós não trabalharmos. Adrian não ficou muito contente com isso, mas faço questão de levá-lo comigo. Ele anda muito cansado, merece um descanso, e ele vai gostar das garotas da cidade. Sei que não será problema reservar um quarto da casa para ele, então o convidei para ficar em nossa casa.

Pretendo ficar um dia em Londres, encontrar alguns velhos amigos. Se precisar de algo da capital é só pedir.


Até mais ver,

Ted


sexta-feira, 12 de setembro de 2008


Senhora Hurley,


Sinto muito pelo ocorrido com os vestidos de suas filhas. Eu pedi para que minha sobrinha fizesse alguns ajustes nos vestidos da senhora Londan, e ela os confundiu com os de Candice e Yasmin, já que são de mesma cor e tom.

Creio que reparar o erro, agora que os vestidos já foram cortados, os tornará feios e deselegantes, visto que para deixá-los longos seria necessário costurar novamente as partes retiradas à saia que ainda permanece. A não ser que a senhora esteja buscando inovação, os vestidos pareceriam roupas de retalhos.

Podemos tentar alguns bordados nas regiões de remendo, mas como o tecido já possui uma estampa própria, acredito que o vestido perderia toda a beleza.

No entanto, poderíamos tentar criar uma saia nova, algo que nunca fiz, mas que além de bonito, seria inédito, criando uma camada de saia de cor sólida, compatível com as cores da estampa - uma saia godê branca de musseline com fitas brancas intercaladas ao tecido que a senhora comprou dariam um ar de leveza e suavidade às meninas. Para isso, seria necessário separar o corpete da saia no vestido.

O máximo que poderia fazer até o momento, já fiz, que foi alertar a minha irmã sobre o que minha sobrinha fez. Sandra está de castigo e proibida de ir ao festival. Espero uma visita da senhora para planejarmos os vestidos das meninas.

Desculpe-me pelo incidente mais uma vez, Senhora Hurley. Não ocorrerá novamente.


Grata, Rosemary Darcy


Querida irmã,


Finalmente estou voltando para casa. Peter, o rapaz de quem falei na última carta, melhorou bastante. A moça que estava com ele, a srta. Wood, não me deixou examiná-lo direito. Ficou conversando comigo desesperada, querendo saber o que poderia ter causado o desmaio do jovem, e listou todos os hábitos alimentares, falando do histórico dele, parecia uma mãe em prantos querendo saber onde errou com o filho. Mas esse tipo de gente não é tão anormal por aqui, todos acham que os novos medicamentos são milagrosos e que nada de errado pode acontecer.

Quando consegui voltar para o quarto do paciente, ele já estava acordado e tão bem como se nada tivesse acontecido. Deve ter sido apenas uma queda de pressão, mas o fato de ter sido tão repentino me assustou bastante.

Descobri que Peter também está indo para a cidade, para o Festival. Ele é filho de Christopher e Margareth Johnson, veio estudar direito aqui em Londres e agora que acabou o curso pretende assumir os negócios do recém falecido pai.

Estamos voltando juntos no trem da quinta-feira, então não estaremos atrasados para o início das festividades. Nem imagine o problema que tive para mudar a passagem, Louise, tive que conversar com o gerente da estação para explicar o motivo.

Não vou me estender muito mais, afinal logo poderemos conversar pessoalmente.

Até Breve,


William


quinta-feira, 11 de setembro de 2008


Srta. Rosemary Darcy,


Estou bastante aborrecida com o trabalho da senhorita em relação aos vestidos das minhas filhas. De início, julguei ter sido um engano da criada que foi buscar os trajes, mas logo percebi que os tecidos são os mesmos que escolhi pessoalmente. Se houve algum engano, foi na confecção, o que o torna inadmissível. Certamente a senhorita tem conhecimento de que eles seriam usados no baile de encerramento do Festival da Colheita, sendo completamente inadequado o uso de tais trajes.

Não quero saber de desculpas; escrevo-lhe para exigir uma solução, pois é inaceitável que minhas filhas usem trajes que outros já viram, tampouco usarão vestidos com os quais não poderiam concorrer à eleição de rainha do baile. Não espero que uma pessoa na sua posição social entenda a dimensão deste absurdo, mas que dirá a sociedade? Será um escândalo! Candice não se importa com essas coisas, mas Yasmin está em prantos.

Saiba a senhorita que não mais usaremos seus serviços se não nos apresentar uma boa alternativa em tão pouco tempo. Perderá sua melhor cliente e não se iluda que ficarei calada diante de tal impropério; pretendo anunciá-lo à sociedade inteira. Aguardo uma resposta convincente, para seu próprio bem.


Violet Hurley


segunda-feira, 8 de setembro de 2008


Caro Robert,


Antes de mais nada, peço perdão por ter saído da cidade tão abruptamente, sem me despedir. Acredite, tive minhas razões. Por favor, diga a minha mãe que estou bem de saúde - com exceção daquele pequeno problema que você bem sabe - e que ela não precisa se preocupar. As coisas estão dando certo para mim aqui na Irlanda. Sim, amigo, estou de volta ao meu querido Eire.

Estou feliz, na medida do possível, mas confesso que sinto falta de algumas coisas. Da sua pessoa, inclusive. Sua ingenuidade sempre me cativou, o brilho de admiração que eu via nos seus olhos irradiavam os lugares por onde passávamos. Brilho esse que foi ficando cada vez mais minguado à medida em que aquela rameira... desculpe, sei que você me pediu para não chamá-la assim... enfim, desde que ela passou a encher sua cabeça com o ofídio veneno, tão característico de criaturas como ela.

Mas você sabe, você me conhece, eu não sou de guardar rancores. No entanto, confesso que fico contente em saber que você pôde afinal ver a luz da verdade. É nessas horas que eu odeio dizer "eu te avisei", mas ainda sinto que há esperanças para você, meu jovem. Tão feliz me deixaste com esta notícia que sinto que devo lhe contar um segredo.

Decidi que uma pessoa que ambos conhecemos deve mudar. Não diga nada, eu sei o que você pensa a respeito dessas minhas decisões. Mas não me julgue antes de saber todos os detalhes. Manterei-o atualizado à medida que a história progredir. Não se preocupe, você sabe que sou inofensivo.

Sempre seu,


James MacYell

segunda-feira, 1 de setembro de 2008


Minha querida Candice,


Como estás? Sei que há tempos não te escrevo, mas sei também que hás de me perdoar, pois conheces bem os motivos para tal. No entanto, como se aproxima o Festival da Colheita e, com essa data, tantas lembranças, senti de ti uma saudade. De ti, dos outros festivais, de tudo o que vivi aí e não pude resistir a tirar um minutinho para escrever-te.

Querida amiga, quantas vezes eu estive tão triste e me socorreste. Tua amizade, tua alegria e o que fazias para me ver sorrir me ajudavam a esquecer algumas tristezas. E depois de cada festival era mais fácil voltar a este lugar e dar continuidade a esta vida.

Mas deixemos de lado o passado, pensemos no futuro e vamos às providências práticas: poderei hospedar-me contigo outra vez? (Não temo que me consideres oferecida, pois não será a primeira vez que faço semelhante pedido). Se a resposta (como espero) for positiva, então farei como nos outros anos. Chegarei na véspera do festival e ficarei até a tarde do último dia. Espere-me na estação na tarde do dia anterior ao festival. Não será preciso outra pessoa para carregar a bagagem, levarei pouca coisa.

Aguardo ansiosa tua resposta e mais ainda a oportunidade de rever-te e rever todos os outros.

Receba um abraço de tua amiga,


Ann.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008


Querida Amelia,


Como eu odeio estas viagens, elas são um verdadeiro calvário. Eu estou mais uma vez na cinzenta Londres, para mais um extenuante tratamento médico. Mais um caro, inútil e doloroso tratamento. Não sei o porquê de meu pai me obrigar a passar tudo isto novamente. Além de ter de passear, na minha marcha militar habitual, próximo ao nojento rio Tâmisa sempre que tenho que ir ao consultório do Dr. Smith. A quantidade de fumaça das fábricas e cheiro do rio me causam náuseas. Não entendo, sinceramente não entendo, eu não preciso disto para passar o dia dentro de um escritório cuidando das contas da família. E se não fosse com este intuito, para que ele pagou tão caro pelos meus estudos? Com certeza não foi para colher folhas de chá. Muitas vezes eu pergunto por que Deus foi fazer isso comigo, qual o grande plano Dele para a minha miserável existência. Estes dias eu tenho pensado que talvez devesse ter estudado medicina para poder ter alguma utilidade para mamãe. Estou cansando de ser um peso para todos ao meu redor. E não sei como você consegue ser tão indiferente a isto.

Mas vamos falar de coisas menos desagradáveis. Estou começando a sentir falta do cheiro das folhas de chá e do ar puro. A falta de sua companhia também tem contribuído para deixar-me ainda mais deprimido. Quero voltar, o mais cedo possível, a passar as tardes conversando em seu belo jardim. As lembranças de nossas tardes tem me sido um bálsamo estes dias. Você já terminou aquele último livro que eu emprestei-lhe?

Sim, eu já ia me esquecendo. Você tem falado com Elise? Ela passou as últimas semanas importunando-me bastante. Eu quero muito bem a ela e acredito ter me excedido ao descarregar meus problemas. Mas minha prima pode esperar, quando eu retornar hei de resolver tudo.


Saudades,


Simon.


terça-feira, 19 de agosto de 2008


Amigo David,


Sei que não gostas de receber más notícias por cartas, mas não posso pegar o trem durante esta época. Fiquei de te enviar meus últimos poemas para a edição do livro, mas ontem à noite minha casa foi invadida. Eu estava na casa de Sofia, portanto não presenciei o vandalismo, mas quando voltei para o meu descanso meu escritório estava todo revirado.

Muitos papéis estavam jogados pelo chão, os armários revirados, as estantes bagunçadas, mas o maior desespero foi quando vi as gavetas forçadamente abertas. Estavam vazias. Perdi os artigos que me enviaras, os documentos e meus poemas, que guardava com tanto carinho, esperando a oportunidade de te mandar.

Não sei o que fazer, a polícia se recusa a me ajudar, pois não me foi roubado nada de valor, “apenas papéis” dizem eles. Como se as palavras não tivessem valor! Não preciso te explicar isso, pois tu, acima de tudo, sabes a preciosidade que me foi tirada.

Lamento não ter conseguido proteger papéis tão importantes para nós. Estou te escrevendo sem ter tido um minuto de descanso desde o incidente. Não acho necessário entrar em detalhes sobre suspeitos, pois assim como eu, já deves saber quem ordenou tal crime. O problema é encontrar quem de fato entrou em minha casa. Mas conferi os itinerários na estação de trem e nenhum deles parte durante a noite para esses lados. Ainda tenho chances de pegá-lo.

Desculpa-me por tantas preocupações, meu amigo. Deseja-me sorte para que tudo acabe bem.

De seu leal parceiro,

Daniel


Querida Elise,


Estou confusa. Na verdade, estou bastante chocada e não sei ao certo como estou conseguindo escrever estas linhas, de tanto que tremem as minhas mãos. Esta manhã, depois da missa, fui olhar minha correspondência e o que encontrei me deixou sem palavras. Esperava ansiosa por mais alguma notícia de William, sobre seu retorno, mas acabei por descobrir um pequeno envelope com uma mensagem bem incomum, que transcrevi abaixo, para você ler.

Nunca antes havia recebido um poema de amor e não sei bem como reagir diante deste. Estou encantada e curiosa e, ao mesmo tempo, apavorada. Você sabe que não saio muito de casa e conheço poucas pessoas. Onde posso ter visto esse poeta misterioso? Ou melhor, onde ele pode ter-me visto? Na igreja, sem dúvida... Você vive dizendo que não saio de lá. E tenho que confessar que, mesmo receosa, gostaria de ir agora ver se o encontro.

Oh, que horror! Aqui estou eu usando a sagrada igreja para fins mundanos. Sinto-me culpada, mas acho que não mais conseguirei sair de casa sem olhar à minha volta constantemente, em busca de um rosto que sequer sei a quem pertence. Estou eufórica, Elise, estou confusa. Oh, meu Deus...

Vou à igreja agora, preciso me confessar.

Um abraço, minha amiga.


Louise



Bela Louise,

Quanta coragem me falta
Num instante, minhas forças acabam
O mundo inteiro pára, perdido num olhar
O coração dispara e o corpo falha
As pernas se rendem à tamanha beleza.
Quem dera eu pudesse
Por um instante apenas
Ter voz o bastante pra dizer o óbvio
E fazê-la saber que aquele teu simples olhar
Como um raio certeiro, me conquistou
Desde então minha alma clama
E quando te vê arde em chamas
Mas não me dá forças pra me aproximar
Então, me ponho a declamar
E deixar que pelo menos escritas
Estas palavras possam te alcançar.


domingo, 17 de agosto de 2008


Querida vovó Jane,


Há algum tempo queria lhe falar, mas ando tão ocupada com os preparativos do festival que nem pude ir à sua casa para fazer-lhe uma visita. Eu sei que ando ansiosa demais com o evento, mas há de ser uma excelente ocasião para conseguir negociar o estoque de folhas de chá dessa temporada, antes do inverno. Desde que vim morar com tio Andrew, aos doze anos, nunca o vi tão otimista e até tia Prudence, mesmo fraca, está ajudando com a decoração.

O que me preocupa é meu primo Simon. De uns dias pra cá, anda mais arredio que o de costume. Não sei se tem algo a ver com a doença de sua mãe ou com outra coisa. Na verdade, acho que está apaixonado. A senhora sabe que ele tem um complexo estúpido por causa do problema na perna, que o faz mancar. Ele tornou-se uma pessoa tão amarga, vovó; está sendo difícil lidar com tamanho orgulho e o sarcasmo, que já faz parte dele. Na verdade, acho que ele sente pena de si mesmo e, por isso, pensa que não é digno da moça. É mesmo um tolo.

Não sei quem ela é, mas faço uma idéia. Nada encanta tanto meu primo quanto uma mente rápida e senso de humor refinado e, das moças que eu conheço, só a irmã de Phillip, aquele amigo dele, corresponde a essas expectativas. Ocorreu-me que Amelia, apesar de parecer superficial, é a única que consegue conversar com Simon sem entediá-lo. Talvez eu devesse ajudá-lo com isso, mas ele tem sido continuamente rude comigo, mesmo sabendo que tenho verdadeira aversão ao seu irritante e já mencionado sarcasmo. Não tenho mais paciência, vovó, então é melhor mesmo deixá-lo resolver-se sozinho.

Prometo-lhe que a visitarei logo que tiver algum tempo. Estou com saudades.


Elise


terça-feira, 12 de agosto de 2008


Caro James,


Há tempos que estou à procura de notícias suas, como você não me escreveu... Tomo a iniciativa eu mesmo. Imaginei que a adaptação à nova cidade e outras atribulações fosse tomar todo o seu tempo, de modo que não lhe restasse algum. Não posso me queixar do seu descaso com seus amigos, você sempre foi muito assistente com todos, então não me resta outra escolha a não ser pensar que você está de fato ocupado.

Recuso-me a achar que seja por orgulho, que você não me tenha perdoado por aquela estupidez. Senti-me péssimo ao saber da sua partida imediata. Foi embora sem sequer fazer as pazes comigo, e o pior, por culpa minha! Pois bem... Consegui o seu endereço com a sua mãe, que por sinal, também anda muito saudosa.

Venho, também, contar alguns fatos que estão acontecendo comigo. Ah, amigo... Você não sabe a falta que me faz! Não sabe o quanto precisei de suas palavras sensatas. Palavras de quem, apesar de muito jovem, experimentou e foi experimentado pela vida. De todos nós você sempre foi o mais vivido, pela maneira intensa como sorve a vida de um só trago. Não sei mais o que fazer.

Sei que você tanto me avisou, lembro-me das suas preocupações, mas eu estava cego. Que homem apaixonado não estaria? E eu achava que você também estava enamorado por Yasmin, que queria apenas nos separar, como ela me fez crer com seus sussurros persuasivos ao pé do ouvido.

Todos os seus temores se confirmaram... Enfim, uma outra hora conto mais detalhadamente o que ocorreu, não vamos falar de coisas ruins agora, certo? O intuito da carta é saber de notícias suas, e, certamente, pedir desculpas por tudo o que lhe disse. Sei que o pedido é intempestivo e que corro o risco de que você, num rompante de raiva, rasgue a carta e nem chegue a ler. Sei como são temperamentais os irlandeses... Em todo caso, se for assim, não tiro sua razão. Espero que aceite minhas desculpas, é de coração.

Aguardo ansiosamente por uma resposta. Receba o mais forte abraço do seu amigo,


Robert Lancaster.


domingo, 27 de julho de 2008


Mãe querida,


Estou escrevendo de Viena, do alto da Catedral de Santo Estevão, de onde se tem uma das mais belas vistas da cidade. Ontem passei em frente ao Castelo de Schönnbrum, que era a residência de verão de Napoleão, é uma construção de tirar o fôlego.

Estou me divertindo muito com a vida aqui. Conheci um rapaz que me ofereceu um local para trabalhar. Não é muita coisa e tenho certeza de que a senhora não vai gostar, mas serei faxineiro da Ópera de Viena. Vou trabalhar durante as apresentações, uma ótima oportunidade para assistí-las.

É um trabalho duro e exige muita disciplina. Adrian, o rapaz de quem falei também trabalha lá e me disse que a Casa está contratando mais faxineiros. Inicialmente é um trabalho temporário, pois Johann Strauss II vai fazer algumas apresentações lá. E eu vou poder escutá-lo! Obviamente não tenho condições de comprar ingressos, mas como trabalho lá vou poder apreciar suas famosas valsas enquanto limpo os bastidores.

E como andam as coisas por aí, mãe? Alguma novidade na cidade? Já está chegando a época do Festival, não é? Diga à Candice que estou muito feliz aqui e que ainda esse ano volto.


Amo muito você. Seu filho,


Ted.

sábado, 26 de julho de 2008


Cara Christine,


Você não me conhece e é até estranho escrever-lhe sem nunca tê-la visto. Mas já ouvi falar tanto sobre você que sinto como se já fôssemos íntimas. Pelo que Peter sempre fala, sei que é uma moça tímida, compreensiva e gentil e tenho muita vontade de conhecê-la pessoalmente. Sei, então, que compreenderá o pretexto para eu lhe estar escrevendo.

Certamente vocês receberam uma carta de Peter, na qual ele dizia que voltaria logo à cidade. Ele deve lhes ter informado que, como sua noiva, eu obviamente irei com ele. Afinal, será um prazer enorme conhecer a família de meu futuro marido. Acontece que ele passou mal na estação e eu achei melhor levá-lo ao hospital, adiando a nossa partida alguns dias por conta do incidente. Mas não se preocupem. Não sabemos ainda o que foi, mas um médico já o examinou e disse que ele logo ficará melhor. Não deve ser nada de mais; Peter tem trabalhado tanto esses dias, pobrezinho, para concluir tudo por aqui que deve ter ficado cansado demais. Não há de ser nada.

Ele agora já passa melhor; está repousando no quarto do hospital e eu achei por bem avisar-lhes do nosso atraso. Assim que ele melhorar, farei com que partamos sem demora. Certamente chegaremos a tempo do tal festival, que Peter faz tanta questão de ver.


Atenciosamente,


Giovanna


quarta-feira, 9 de julho de 2008


Amelia querida,


Desde o festival passado estou intrigada com a injustiça na escolha da rainha. Lembro-me perfeitamente de que você era a concorrente preferida, e de que Yasmin ganhou a coroa com o mesmo vestido que Candice usara no ano anterior. Não acho justo que isso aconteça novamente esse ano, e vou fazer de tudo para Christine ganhar. Tenho um plano.

Estive pensando em como transformar o vestido de noite das duas filhas do prefeito em algo bem casual... Talvez alguns recortes e uma saia mais curta consigam deixá-los bonitos, mas totalmente desqualificados para a ocasião. Bem, não pretendo acabar de vez com o vestido, mesmo porque foi titia quem fez, mas acho que testarei meus recém-adquiridos dotes de costureira para renovar o visual daquelas duas. Pode parecer uma idéia meio cruel, mas me pergunto se a primeira dama conseguirá burlar as regras desta vez, afinal, um dos requisitos para o concurso é o vestido ser, no mínimo, longuete.

Ainda estou pensando se as conseqüências serão muito ruins. Talvez mamãe me deixe de castigo por algumas semanas, mas isso não me assusta, pois tenho ficado em casa todos os dias, ajudando-a com os afazeres. Estou mais preocupada em como a Senhora Hurley irá reagir. Ela pagou uma boa quantia pelos vestidos das filhas e não deixará barato a perda da coroa.

Posso dizer, no entanto, que titia pediu que eu fizesse uns ajustes em dois vestidos da Senhorita Londan e eu os confundi com os vestidos de Candice e Yasmin. Acho que titia não ficará tão brava comigo, já que a Senhora Hurley faz questão de abusar de seu suposto poder de primeira dama e tratar titia como sua empregada, exigindo ajustes desnecessários, que depois precisam ser desfeitos.

Esta noite estarei em casa, portanto, caso queira falar comigo, é só usar nosso código secreto. Minha janela ficará aberta.

Sandra


domingo, 6 de julho de 2008


Querida Louise,


Como estão os preparativos para o Festival da Colheita? Estou ansioso para ir, mas dessa vez vou me atrasar um pouco.

Ontem me despedi do pessoal do hospital, todo mundo lá sabe que nessa época eu tiro férias e fizeram até uma festinha. A Dona Rose fez uns bombons de chocolate deliciosos, daqueles recheados que você adora.

Hoje de manhã fui para a estação pegar o trem das nove e fiquei surpreso em vê-la tão cheia. A cada ano que passa as pessoas usam mais os trens, como se fosse uma novidade que todos querem ver. Muitos conversavam animados, esperando a máquina chegar.

Eram quase nove horas quando um rapaz bem do meu lado desmaiou, quase me derrubando. Todos o olhavam assustados, havia um grupo de amigos com ele e disseram que ele simplesmente caiu. Não sei ainda o que é, mas o trouxe direto para o hospital e sinto que devo ficar até que ele melhore. Esperei a situação acalmar um pouco para escrever e pedir que não se preocupe com minha demora. O jovem ainda não despertou e tudo que sei dele é que se chama Peter. Daqui a pouco vou conversar com uma moça que estava na estação junto com ele e veio acompanhá-lo.

Desculpe por estar atrasando minhas férias, sei que você se preocupa comigo por eu trabalhar demais, mas não posso deixá-lo aqui, Deus o fez desmaiar em meus braços por um motivo e não posso ignorá-lo.

Espero chegar a tempo de ver o Festival. Um grande abraço do irmão que a ama muito,


William


sábado, 5 de julho de 2008


Querida Samantha,


É uma pena você estar viajando justamente agora. Estão começando os preparativos para o Festival da Colheita e, pelo que vi na pracinha, a festa promete ser linda. Você precisava ver como a cidade está enfeitada este ano. Até colocaram flores na estátua de Sir William McKeller, o fundador da cidade. Bem, na verdade, acho que isso foi travessura de algum engraçadinho.

Ontem, eu fui com meu irmão levar as mesas e folhas de parreira para enfeitar nossa barraca. A primeira dama estava lá, organizando a ornamentação e colocando a urna de votos para a rainha do festival no centro da pracinha. Provavelmente Yasmin ou Candice vencerá, como sempre, visto que é a mãe delas quem organiza tudo e quem conta os votos. É uma pena, acho que Christine poderia ganhar; o vestido que ela fez é mesmo lindo.

Falando em Christine, sabia que o irmão dela está voltando à cidade? Ela me disse que, agora que ele acabou a faculdade, assumirá os negócios do pai. É uma ótima notícia, não é? Desde que o pai dela morreu, fiquei pensando em como ela e a mãe se sustentariam. Peter foi embora há tanto tempo que sequer me lembrei dele. E Henry ainda é muito jovem para trabalhar.

Bem, não me estenderei mais, pois você deve estar muito atarefada, na sua lua-de-mel. Desejo-lhe o melhor, minha prima.


Amelia


quinta-feira, 12 de junho de 2008

Se você acabou de chegar

E não souber por onde começar a ler, aqui vão algumas dicas:


  • Escolha qualquer personagem dos Marcadores e clique nele. Aparecerão todas as cartas em que ele é mencionado, mesmo que não seja o remetente ou destinatário.
  • Depois de ler as cartas do tal personagem, escolha outro que tenha sido citado em qualquer uma das cartas que você acabou de ler e clique em seu marcador, para você ir fazendo uma relação entre as histórias.
  • Qualquer dúvida, mesmo depois de ter lido as cartas sobre um determinado personagem, vá ao item Personagens e clique no Mapa de Personagens ou no Conheça os Personagens.
  • Não deixe de comentar sobre o que achou do que leu até agora. Sua opinião, crítica ou elogio são muito importantes para nos estimular a dar continuidade a essa história.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Personagens

  • Adrian: rapaz que ofereceu lugar pra Ted trabalhar.
  • Amelia Farrington: amiga de Christine e Sandra, prima de Samantha.
  • Andrew Brewer: tio de Elise, pai de Simon, pediu empréstimo a Patrick.
  • Ann: amiga de Candice.
  • Sr. Berger: empregador de Ted.
  • Candice Hurley: filha do prefeito.
  • Christine Johnson: amiga de Amelia, irmã de Peter.
  • Christopher Johnson: falecido pai de Peter e Christine.
  • Daniel: poeta que foi roubado. Amigo de David.
  • David Berestford: amigo e editor de Daniel. Dono de um jornal em Londres.
  • Elise Brewer: prima de Simon, sobrinha de Andrew e Prudence. Amiga de Louise.
  • Frank: conhecido íntimo de Sofia.
  • Giovanna Wood: noiva de Peter, cunhada de Christine.
  • Henry Johnson: irmão mais novo de Peter e Christine.
  • James MacYell: amigo de Robert.
  • Jane: avó de Elise e Simon.
  • Srta. Londan: encomendou um vestido a Sandra.
  • Louise Allerton: irmã de William, médico. Amiga de Elise.
  • Madeline: irmã mais nova de Sofia.
  • Margareth Johnson: mãe de Peter e Christine.
  • Noah Lancaster: pai de Robert e Ted.
  • Patrick Stockton: escreveu a Andrew cobrando uma dívida atrasada e manifestou interesse em Elise.
  • Peter Johnson: irmão mais velho de Christine e Henry, noivo de Giovanna. Foi socorrido por William, o médico.
  • Phillip Farrington: irmão de Amelia, amigo de Simon.
  • Prudence Brewer: tia de Elise, mãe de Simon.
  • Robert Lancaster: rapaz apaixonado por Yasmin, amigo de James, irmão de Ted.
  • D. Rose: alguém do hospital em que William trabalha. Fez bombons para ele levar para casa.
  • Rosemary Darcy: costureira, tia de Sandra.
  • Rudolph Gallagher: padrinho de Robert.
  • Samantha: prima de Amelia.
  • Sandra: amiga de Amelia, ajudante da tia costureira.
  • Simon Brewer: primo de Elise.
  • Sofia: amiga de Daniel, David. Irmã mais velha de Madeline.
  • Ted Lancaster: irmão de Robert, viajante, trabalha como faxineiro na Ópera de Viena.
  • Violet Hurley: primeira dama e mãe de Candice e Yasmin. Encomendou vestidos na costureira, tia de Sandra.
  • William Allerton: médico que trabalha num hospital em outra cidade. Socorreu Peter.
  • Yasmin Hurley: filha do prefeito, teve um relacionamento com Robert.


Cartas não olham nos olhos

É bem mais fácil escrever...



terça-feira, 10 de junho de 2008

Mapa de Personagens




Clique na imagem para ampliá-la.

  • Cada personagem é ligado aos seus conhecidos.
  • Um personagem em azul é conhecido ou amigo de seus ligantes.
  • Personagens de cores diferentes de azul têm relações familiares com todos os outros adjacentes de mesma cor.
  • Personagens agrupados fazem parte de uma mesma família cujo nome é o mesmo do grupo.
  • O Simbolo † significa que a pessoa não mais se encontra terrenamente viva.